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- 16 e 17 de março: 2ª Mostra de Dança Movimenta Sesi Minas

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São Paulo:
- 23 de março: Sesc Itaquera às 15:30hs
- 24 de março: Sesc Santo Amaro às 16:00hs

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Entrevista com Mário Nascimento

ESTADO DE MINAS domingo, 22 de julho de 2012

REBELDE COM CAUSA - por Carolina Braga


Bailarino consagrado, Mário Nascimento trocou a efervescência de São Paulo pelo clima ameno de BH
Na maior parte do tempo Mário Nascimento é sério. O traje preto, o penteado no lugar contribuem para reforçar a sobriedade da figura. Mas, ao falar da paixão pelo trabalho, sorrisos esboçados surgem no rosto de traços fortes. Por trás da cara aparentemente fechada, há um artista inquieto e, curiosamente, de natureza rebelde. Fundador da companhia de dança que leva o próprio nome, há nove anos trocou a efervescência de São Paulo pelo clima – ameno e amigo – de Belo Horizonte. Não se arrepende. Afinal, por aqui não tem faltado o que ele mais gosta.

“Sou um workaholic. Sinto-me mal nas férias. Acho um saco. Gosto de estar na sala de aula, de produzir, de ver arte. Relaxo trabalhando, essa é que é a verdade”, assume. Quando fala de dança, a paixão de Mário Nascimento fica nítida. Ela se traduz até em números. Por exemplo, no contrato de patrocínio da Petrobras estavam previstas 30 apresentações no ano passado. O grupo fez 70.
Ao mesmo tempo em que percorre o Brasil no projeto Palco Giratório, do Sesc, ele e seus bailarinos ensaiam nova montagem de rua, batizada Parada 7. Ainda para 2012, está prevista Nômade, outra criação para teatro.
Natural de Cuiabá, aos 11 anos Mário Nascimento deixou a terra natal motivado por um fato trágico: o assassinato do pai, um bem-sucedido empresário da região. “Sou de uma família de sete filhos e com esse evento minha mãe achou melhor transferir toda a família para Campinas, onde estava parte da família”, conta. Até então, dança era uma coisa que nem de longe passava pela cabeça do menino.
“Não sei por que me interessei. Não tive influência, não tive indicação. Nada na minha família remetia a isso”, frisa. Mas um dia, andando pelas ruas de Campinas, passou na porta de uma escola de dança e, do nada, entrou para nunca mais sair. Tinha 16 anos. “A dança provavelmente veio para ajudar a me colocar”, diz. Claro que o interesse dele não foi recebido com tranquilidade pela tradicional família mato-grossense. Durante os seis primeiros meses, Mário Nascimento frequentou as aulas em segredo. Como aluno dedicado, foi praticamente adotado pela família da atriz e também bailarina Cláudia Raia, que, na época, mantinha uma escola de dança na cidade.
De Campinas, transferiu-se para São Paulo, onde se abriu a experiências de diversas naturezas. “Desliguei-me totalmente da família. Quis ir para o mundo. Era uma necessidade de me encontrar”, afirma. Nos primeiros anos, mantinha uma vida paralela na capital paulista. Se durante o dia se enfurnava nas salas de ensaio, à noite se jogava sem limites nas baladas. “Me envolvi com drogas, fui preso, vivia nos porões onde o rock rolava”, lembra.
Foi numa dessas noitadas que conheceu Lennie Dale, que havia acabado de deixar o Dzi Croquetes e juntamente com Joyce Kerman montou uma companhia de dança. Aos 19 anos, Mário Nascimento começava, então, a carreira profissional na dança. “Sou baixo e não sou um modelo de beleza. Então tinha que ser realmente muito bom”, reforça. A carreira de professor foi a primeira a dar frutos a Mário Nascimento. “Cheguei a ter 200 alunos, porque era muito intenso. Era um cara improvável justamente por não ser um modelo. Dava aula de botas, anéis. Me espelhava no Prince. Criei um personagem e era muito badalado”, diverte-se.
Cisne Negro
Mas foi a excelência técnica o diferencial para o crescimento da carreira. Seu rigor o colocou entre os três bailarinos selecionados pelo Balé da Cidade de São Paulo, no fim da década de 1980. “Fiquei oito meses e saí por rebeldia. Não gostava do modelo de direção, não concordava com aquilo e não aceitava. Pedi demissão uma semana antes de uma grande estreia”, conta. Depois do rompimento, decidiu passar uma temporada na Europa. Voltou a convite da diretora Hulda Bittencourt, que desejava compartilhar com ele o comando da Cisne Negro Cia. de Dança. “Aprendi o que era uma companhia”, destaca. Depois de dois anos, mais uma vez, era chegada a hora de traçar o caminho independente na dança.
Ainda que sempre rebelde, Mário Nascimento se define como “um cara disciplinador”. Reconhece a incoerência nessa postura, já que se diz um sujeito tão livre, mas garante que, sem essa característica, não teria conseguido desenvolver um talento específico: lidar com os bailarinos rebeldes, aqueles que mais têm a oferecer às criações artísticas.
A Companhia de Dança Mário Nascimento foi criada da parceria com o músico Fábio Cardia. Escapada (1997) marca o início do grupo, primeiro com sede em São Paulo. A mudança para Belo Horizonte se deu dois anos depois. “Sueli Machado, Cristina Machado e Tíndaro Silvano me influenciaram”, lembra. Foi entre as montanhas daqui que a companhia deixou de ser um duo (formado por ele e Fábio) e, pouco a pouco, se transformou no grupo de oito bailarinos que é hoje. “O grupo se fortaleceu e passou a ter uma cara”, reconhece.
Parte desse reconhecimento o coreógrafo atribui à forte presença da bailarina Rosa Antuña. “Ela trouxe coisas que eu não tinha. Trabalhava de forma muito viril e Rosa acrescentou o feminino. Comecei a estudar aquele corpo e de que forma poderia melhorar minha criação”, conta. Mas não é somente Rosa Antuña que recebe elogios do coreógrafo. “Sou intenso, gosto da proximidade com o elenco, gosto de almoçar, jantar, tomar café da manhã junto, interfiro na vida deles, faço uma direção muito próxima”, detalha.
O próprio Mário sabe que é um sujeito peculiar. Não tem muitos planos além de continuar criando. Mas, para isso, também tem claro que precisa da adesão de outros rebeldes. “É duro trabalhar com um cara que vive essa intensidade como eu. Me chamam de maluco. Sou um apaixonado pela dança”, resume.
Três perguntas para...
O que é dança contemporânea?

Acho que a arte contemporânea precisa de intensidade, pesquisa e estudo. Existe muito oportunismo. Como o leque é muito amplo, isso abre demais, então você vê muita coisa malfeita. Para mim, a dança contemporânea é tudo o que você aprendeu e tem a possibilidade de colocar em cena. Tive um estudo muito grande na dança, com balé classico, jazz, dança moderna e arte marcial. Logicamente, tudo isso influenciou o meu trabalho.
Existe um ideal de bailarino?

Não. Existe o bailarino adequado ao trabalho naquele momento. Hoje, meu grupo tem uma linguagem. Então tem bailarinos que topam trabalhar desse jeito e outros que vão embora. Existe disciplina, mas existe liberdade. Existe exigência muito forte, mas preciso que olhe nos meus olhos e que também tenha o espírito dos rebeldes.
Qual o principal motor para o desenvolvimento de uma linguagem na dança?

Leio muito, vejo muita coisa, mas existe a prática. A prática da dança é o trabalho diário, a repetição. Para forjar o meu movimento tive que estudar. Muito do meu trabalho vem de uma impossibilidade minha enquanto bailarino. Como não tinha o biotipo, tive que fazer o meu corpo ir para outros lugares. Com isso criei uma linguagem.
Principais trabalhos
» Escapada

» Trovador

» Escambo

» Do ritmo ao caos

» O rebento

» Faladores

» Escapada

» Território Nu